No ano passado os varejistas de supermercados passaram por momentos agitados a medida em que a indústria trabalhou para agradar os compradores em meio a tempos turbulentos. A pandemia se recusou a ir embora. A inflação aumentou em vários países. As queixas na cadeia de suprimentos continuaram. Assim também a escassez de mão de obra. Todos esses fatores e muito mais afetaram a indústria de alimentos.
A seguir apresento quatro tendências que levam em conta o estado do varejo nos supermercados, incluindo a tecnologia que está ajudando a indústria a melhorar.
Aumento dos custos impulsiona supermercados em direção a maior eficiência e inovação
No Brasil, 2022 foi marcado pela preocupação persistente com a inflação. A crise econômica causada pela pandemia desencadeou um desequilíbrio entre as relações de oferta e demanda, levando a um aumento global de preços. O Brasil encerrou 2022 com inflação acumulada de 5,79%. A maior pressão inflacionária no ano de 2022 veio do grupo alimentação e bebidas.
Para combater o aumento dos preços, os consumidores estão mudando seus hábitos de compras. Os dados, obtidos pelo Broadcast, mostram que as adaptações ao novo contexto foram feitas por 89% das pessoas e em todas as camadas sociais. Entre os 67% que disseram buscar marcas mais baratas para economizar, por exemplo, 78% trocaram as marcas dos alimentos básicos, como feijão, arroz e açúcar.
Comercialmente, há mais desafios de estoque. Há produtos que têm validade menor e é preciso tomar mais cuidado, por exemplo. O planejamento de compra e abastecimento se tornam mais críticos. Outro exemplo de adaptação comercial, é que algumas redes passam a fazer ações promocionais quando as lojas estão mais vazias e o dinheiro do consumidor está mais escasso.
Os varejistas, também sentindo a pressão da inflação, podem comprimir um pouco os custos operacionais para que possam ter mais alavancagem e liberdade nos preços. Muitos varejistas estão utilizando insights orientados por automação e inteligência artificial para identificar maneiras de otimizar suas cadeias de suprimentos e reduzir custos.
Omnichanel para supermercados ainda está numa linha expressa
Segundo a mesma pesquisa, é possível que o hábito de comparar mais os preços tenha beneficiado as compras online. Hoje, 37% das famílias pesquisadas já disseram ter o costume de fazer compras de supermercado online. Esse porcentual é ainda maior entre as famílias de renda média e alta (51% e 59%, respectivamente).
Segundo levantamento interno da Linx, somente no primeiro semestre de 2022, as vendas omnichannel cresceram 20% quando comparadas ao mesmo período de 2021. Para o consumidor, a integração das operações físicas e digitais do varejista representam flexibilidade e agilidade. Segundo levantamento, a modalidade de entrega “pickup” — quando o cliente compra no e-commerce e retira o produto em unidades físicas — saltou 90% no mesmo período. Apesar da opção de entrega de supermercado, muitos consumidores ainda preferem fazer compras pessoalmente. Apesar do e-commerce seguir em
franca ascensão, 58% dos consumidores latino-americanos informaram o desejo de voltar a comprar em lojas físicas com o arrefecimento da pandemia.
Os varejistas estão fazendo todos os esforços para unificar seu comércio eletrônico e negócios físicos para cortar custos, evitar situações sem estoques e proporcionar uma melhor experiência ao cliente.
A falta de funcionários – AI pode ajudar
Uma das maiores razões para os falta de estoque entre os varejistas é a falta de apoio da força de trabalho. A debandada da mão de obra aconteceu por conta da dificuldade de emprego provocada pelo coronavírus, que fez estes profissionais mudarem de área, abrirem microempresas ou até voltarem para as cidades de origem.
Os varejistas continuam tendo problemas para empregar pessoas suficientes para picking em seus centros de distribuição. E durante as temporadas de pico, como as recentes férias do quarto trimestre, isso inevitavelmente afetou a experiência do cliente quando ele não conseguiu comprar o que queria. O principal desafio dos pontos de venda é a falta de disponibilidade de produtos. Apenas na América Latina, 82% das pessoas que visitaram uma loja saíram do local sem o que procuravam por falta de estoque.
A previsão de carga de trabalho orientada por IA pode levar em consideração os fatores de trabalho externos e internos para prever potenciais picos e flutuações ao longo da semana, dia e ano. Além disso, ele pode ajudar os varejistas a planejar as tarefas com mais precisão, sejam previsões de entrega para prever o trabalho de prateleiras ou números de vendas e passos para tarefas de atendimento ao cliente. Os varejistas podem planejar turnos de trabalho que correspondam à carga de trabalho diária prevista em cada loja.
A utilização de insights de IA para detalhar o fluxo de mercadorias, nas lojas e nos centros de distribuição, pode ajudar a minimizar o trabalho manual associado ao gerenciamento de estoque. Também pode ajudar a melhorar a implantação de estoque, diminuindo não apenas as vendas e o estoque perdidos, mas também os aumentos e quedas da disponibilidade de mão de obra na rede de abastecimento.
Reabastecimento automatizado deve se tornar algo básico
A eficiência na operação de reabastecimento de um varejista afeta principalmente a lucratividade. A precisão e a eficácia dos pedidos nas lojas afetam as vendas por meio da disponibilidade nas prateleiras e o impacto no manuseio, dos custos de armazenamento e desperdício nas lojas e em outras partes da cadeia de suprimentos.
O controle preciso no nível de itens é praticamente impossível de alcançar com o pedido manual da loja. Mesmo assim, quase metade dos varejistas gerencia o estoque manualmente, consequentemente eles não sabem quanto estoque têm em cada uma de suas lojas.
No entanto, um sistema de reabastecimento automatizado monitora constantemente estoque, vendas e demanda. Erros humanos, como esquecer de fazer um pedido, são eliminados. Além disso, um sistema de reabastecimento confiável também leva em consideração as mudanças de previsão de demanda e ajusta os pedidos de reabastecimento de acordo, aumentando os níveis de serviço, as vendas e melhorando a satisfação do cliente.
Resumindo, com a inflação, os altos custos, a força de trabalho mais reduzida, e os consumidores de compras na loja e on-line, os supermercados têm alguns pedidos altos para preencher. Felizmente, a tecnologia pode ajudar com reabastecimento de produtos mais eficiente e uma cadeia de suprimentos mais eficaz, ambos levando a mais receita.
Mikko Kärkkäinen é o CEO e co-fundador da RELEX Solutions, fornecedora de soluções unificadas de planejamento de cadeia de suprimentos e varejo.